Outeiro de Gatos é uma aldeia da Beira Alta que pertence ao concelho da Mêda, distrito da Guarda.Este é um blog que pretende dar a conhecer esta aldeia e o seu concelho, divulgar as suas riquezas patrimoniais e paisagísticas mas também as suas manifestações populares e culturais, as festas e romarias, as feiras e exposições, os monumentos, as antigas Vilas Medievais, o artesanato e as suas gentes, seus costumes e tradições. Fique por aí e volte sempre. Obrigada.

Vinho da Mêda - A Lenda

Como poderia eu falar dos sabores da terra, esses manjares dos deuses, sem lembrar o bom vinho que destas terras enche os nossos copos, também ele repleto de aroma e sabor que dificilmente se esquece?

Muito afamado em tempos, "hoje em dia poucos são os que se lembram do Vinho da Mêda também conhecido como Palhete da Mêda ou Palheto da Mêda, mas os que se lembram recordam com saudade o tão afamado vinho e anseiam por uma oportunidade para partir numa viagem em senda dos sabores do passado".

O post de hoje convida-vos a uma viagem por terras de Mêda à descoberta dos magníficos vinhos da região, que vêm conquistando o seu lugar no mundo.

Mas antes, fiquemos a conhecer a lenda do vinho da Mêda.

Em tempos remotos Baco fez uma visita ao seu bom amigo Endovélico, o deus dos deuses da Lusitana. Aconteceu, por isso, a generosa divindade do vinho ter de passar, certo dia cálido de Agosto, pelas acidentadas terras medenses. Atravessou a Veiga de Longroiva e subiu penosamente o Barrocal tornando por ladeiras íngremes o caminho da Mêda. Ia esfalfado o pobre deus Baco. Levava os pés doridos das agudas pontas das rochas, a toga rota pelos silvados dos caminhos e o suor caía-lhe em grossas bagas pela fronte avermelhada. As cigarras cantavam uma canção monótona, cheias de sono. Hélias, lá no alto, lançava inclemente os seus raios sobre a terra.

Quando ia, pouco mais ou menos, onde hoje está o Alto do Poço do Canto, rebentou-lhe uma sandália. E ainda bem, porque se não fosse assim ia jurar que rebentava de calor. Perto daquele local, à entrada de uma tosca cabana de pedra e troncos, havia um casal de lusitanos e um filhito.
Baco, ao vê-los, correu para eles gritando:
- Pelos deuses, dai-me de beber!
O lusitano entrou na cabana e regressou com uma escudela de barro cosida ao Sol, cheia de água.
- Pegai!
Baco fez uma careta muito feia.
- Água? Acaso não tendes vinho?
O anfitrião arregalou muitos os olhos, cofiou a barba entouça e volveu espantado:
- Não. Nós não sabemos o que isso é. Quereis vós comer?
E sem esperar resposta voltou com uma perna de cabrito montês. O deus do vinho agradeceu. Se ainda fosse regado com o seu tinto... Assim não. Fazia-lhe mal ao fígado. Por fim resolveu beber a água com certa repugnância.
À despedida, Baco, comovido pela franca hospitalidade do luso, disse-lhe:
- Ainda um dia hás-de saber o que é vinho,

Alguns anos mais tarde uma centúria romana, marchando em cadência, parava à porta da singela habitação do lusitano. Este, retesando o arco, esperava-os agressivo. O filho, que era já um rapazinho, empunhava, ao lado da mãe, o gládio.
Os legionários deixaram a forma e cada um deles abriu uma vala e na vala pôs uma videira. Depois tomaram os lugares e partiram como haviam vindo, em marcha cadenciada e rítmica. Num dos bacelos lia-se esta tabuleta: "Baco oferece, reconhecido."

Aquelas cepas deram a seu tempo saborosos bagos cujo suco o lusitano espremeu para beber no inverno, numa comunhão de força e de rejuvenescimento. E assim, daquelas belas uvas da Campânia, que eram a delícia do bom Baco, havia nascido o generoso e salutar Vinho da Mêda!

Fonte: "Terras da Meda" de Adriano Vasco Rodrigues

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